REPORTAGEM ESPECIAL (PARTE 3): REVOLTA DE PRINCESA: 80 ANOS DE UMA GUERRA ESQUECIDA

A Revolta de Princesa (também chamada guerra ou sedição de Princesa) foi um conflito armado entre o coronel José Pereira Lima, todo poderoso chefe do município de Princesa (hoje Princesa Isabel), no sertão paraibano, e o governador de então (à época chamado de presidente), João Pessoa. Durou de fevereiro a julho de 1930. Desde que assumiu o Governo do Estado, em 1928, o sobrinho de Epitácio Pessoa entrou em rota de colisão com as oligarquias paraibanas, não poupando nem mesmo históricos aliados do tio – responsável por sua eleição.

A relação do autoritário governante e o poderoso coronel (e deputado estadual) foi rompida após divergências na formação da chapa de deputados federais. Outros núcleos oligárquicos, como a família Dantas, também romperam com João Pessoa. Como resposta, este mandou a polícia invadir o município de Teixeira, reduto dos Dantas, prendendo pessoas da família e impedindo que ocorresse votação naquela cidade. Determinou que acontecesse o mesmo em Princesa, mas o coronel Zé Pereira se armou, juntou um exército e reagiu.

O coronel teve o apoio dos poderosos Pessoa de Queiroz, nada menos que primos de João Pessoa que viviam no Recife e foram prejudicados pela reforma tributária que o governante estabeleceu, barrando, por meio de duras medidas fiscais, a antes fluente e livre entrada de mercadoria de Pernambuco na Paraíba, principalmente pelo sertão. Embora seja muito pouco conhecida e via de regra não conste da grade escolar, a guerra de Princesa foi um dos episódios mais marcantes da história contemporânea do Brasil.

Sem a ajuda do Governo Federal, de quem era politicamente distante, João Pessoa não teve forças para vencer a batalha. Princesa recebia recursos, armas, munições e mantimento de Pernambuco e – suspeita-se – até do próprio Governo Federal. A esperança do coronel era de que a batalha levasse à interdição do Estado, com o consequente afastamento de João Pessoa do poder, o que nunca aconteceu.

A sedição, que o governador prometeu deter sem maiores esforços, avançou a tal ponto, que José Pereira chegou a anunciar a independência do município, batizando-o de “Território Livre de Princesa”, com direito a bandeira e hino próprios. Fragilizado, o Governo do Estado se dispôs a receber toda a ajuda oferecida, o que ensejou um episódio pitoresco, quando mecânicos campinenses construíram um tanque de guerra artesanal, espécie de carro blindado.

Depois de montado e recoberto com grossas chapas de aço, o veículo ficou tão pesado que nunca saiu do lugar. A guerra só acabou em 26 de julho de 1930, com a morte de João Pessoa. Ninguém sabe o que foi feito do blindado, que deveria estar em um museu. Da mesma forma, não se explica porque a impressionante história da Revolta de Princesa não consta na História que se conta nas escolas.

Reportagem, de autoria do signatário do blog, publicada no Diário da Borborema de 25/07/2010

4 Comentários

Cláudio Goes disse…
Lenildo Ferreira esbanjando conhecimento e mostrando como se faz jornalismo. O Blog já é uma fonte de pesquisa.
Anônimo disse…
Olá Lenildo!! gostei de sua reportagem eu sou pesquisador das revoluções 22- 24 -30- 32 !! a minha pergunta é? Vc tem outrs fotos deste carro blindado que vc mostrou ai nesta reportagem??? Tenho um livro chamado (1932 São Paulo a Maquina de guerra ) E a pergunat é justamente pois gostaria de poder montrar uma miniatura desta joia rara de nosso Brasil!!!
Lenildo Ferreira disse…
Mário (você não assinou, mas, pelo título do livro, achei teu nome), que eu saiba, não há outras fotos desse 'tanque', que tem uma história cheia de curiosidades e controvérsias.

De qualquer forma, se você quiser maiores detalhes, passa e-mail para mim que te remeto o que tiver, inclusive informações de livros que falam sobre o tanque. Meu e-mail: lenildoferreira@gmail.com

Abraços
Anônimo disse…
Li, em certo lugar, que havia um Cunha Lima lá, apoiando a Revolta. Agora Ricardo Coutinho declara guerra a Campina Grande e ao Interior.

Marcelo
hagah72@hotmail.com