O jornal A União inicia, neste fim de semana, uma série de entrevistas com os candidatos a reitor da UEPB - que serão reproduzidas aqui no blog. O primeiro entrevistado é Antônio Guedes Rangel Júnior. Conhecido por todos como Rangel Júnior (ou apenas Júnior), além de músico é professor há 24 anos na Universidade Estadual da Paraíba e há dois anos e seis meses ocupa a função de pró-reitor de planejamento. Graduado em Psicologia e Mestre na área da Educação, o professor e psicólogo diz estar confiante no sucesso de sua candidatura, e que pretende dar continuidade aos trabalhos produtivos e desenvolvidos na Universidade.
Porque o senhor quer ser reitor da UEPB? Qual a sua história com a Estadual?
Recebo a proposta de candidato como um desafio e missão a ser cumprida, por possuir uma vasta história na universidade. Tive praticamente seis anos como estudante e vinte e quatro anos como professor. Exerci cargos e participei efetivamente de todas as lutas do Centro Acadêmico e do Diretório Central dos Estudantes na universidade. Fui presidente do sindicato e vice-reitor da universidade. Todo esse momento histórico proporcionou uma reflexão, de modo que as pessoas enxergaram em mim alguém que pudesse incorporar e representar um projeto coletivo e dar continuidade na evolução da UEPB.
Caso o senhor seja eleito reitor da UEPB, o que aponta como principal desafio?
Terei como principal desafio melhorar tudo o que vem sendo feito nos últimos sete anos, pois o atual reitorado demarcou o campo estampado uma nova face para a universidade. Nós passamos de um patamar onde a carência era quase total para um patamar que em todas as frentes algo foi feito. Muitas coisas precisam de ajustes e aperfeiçoamentos, portanto, o meu desafio será impulsionar a universidade em ser cada vez mais presente na vida do povo paraibano.
O senhor pretende abrir novos campi? É possível a universidade avançar pelo estado sem comprometer a qualidade de ensino?
Avançar sem comprometer a qualidade é também um grande desafio porque fizemos ao longo dos últimos anos um processo de expansão da universidade onde o seu tamanho foi dobrado. Por estarmos trabalhando com muitos projetos, mestrados, doutorados e outros meios de ensino, a possibilidade de uma maior expansão só é possível a partir de um novo ciclo expansionista. Vivenciamos esse ciclo, mas estamos entrando em uma nova fase, que mostra a capacidade de expansão sendo diminuída, por motivos de um corte brutal dos recursos que ela possuía. A nossa tentativa é de melhor qualificar os campi instalados e consolidá-los.
A UEPB tem problemas relacionados a baixo desempenho de alguns cursos? Quais?
Esse é um problema da educação brasileira desde a alfabetização, e se estende ao ensino fundamental, chegando ao ensino médio. Portanto, eles repercutem dentro da universidade. Ao adentrarem na universidade, os alunos que em sua formação tiveram lacunas importantes, a instituição demonstra respeito a estes estudantes e reconhece suas deficiências, mas é preciso dar uma resposta a isso. É preciso encarar essas deficiências com políticas compensatórias, estabelecendo um equilíbrio na formação.
Existe um projeto para otimização da infraestrutura do campus de Bodocongó. É possível tornar esse projeto uma realidade?
Sim. Esse projeto já está em curso, e nós temos uma primeira central de aulas planejada para atividades acadêmicas. E ela irá comportar a transferência de dois centros importantes de Campina Grande, um problema que se alastra por 40 anos será resolvido, que é a dispersão dos centros pela cidade. Três campi ainda funcionam em locais diferentes, até com instalações alugadas. A primeira providência importante, que já vem sendo tomada, será a transferência definitiva do CEDUC e CCSA para Bodocongó.
É possível manter uma política de valorização do professor e dos servidores técnicos sem estourar o orçamento?
Perfeitamente possível. Em um primeiro momento tivemos salários até melhores do que servidores e docentes das universidades federais, e posteriormente, nos últimos dois anos, sem a possibilidade dessa política, já perdemos alguma coisa. Mas, ainda temos uma remuneração compatível com o que se oferece no mercado de trabalho na região. Através disso, é possível representar a possibilidade de reter na UEPB os professores mais qualificados.
Caso seja eleito, ao assumir tem planos para promover algum enxugamento da estrutura da universidade, sobretudo no que se refere a pessoal comissionado e terceirizados?
Essas ações são feitas permanentemente. Nós temos uma carência enorme de profissionais na área técnica. Cada vez que a pesquisa desenvolve mais, que a universidade expande suas ações administrativas, necessita de mais técnicos. Então, o quadro de servidores comissionados ou temporários tem sido ampliado para suprir uma necessidade muito real. Nesse sentido, não há enxugamento a se fazer, e sim, ampliar o quadro de técnicos com concursos públicos.
Como o senhor analisa a atual gestão, que tem à frente, desde 2004, a reitora Marlene Alves?
O reitorado da professora Marlen é extremamente exitoso em todos os aspectos. A ampliação das ações, a duplicação de matrículas e estudantes, a política de cotas da universidade que permitiu 50% das vagas serem destinadas às escolas públicas da Paraíba, as políticas de apoio aos estudantes, docentes e técnicos, são muitas ações e que por todas essas razões, avalio como positivo.
Quem o senhor apoiou nas eleições para reitor de 2004 e 2008?
Eu não só apoiei como coordenei as duas campanhas da reitora Marlene Alves e o professor Aldo Maciel (vice-reitor).
Há, nesse momento, um desgaste na relação entre o Governo do Estado e a reitora Marlene Alves. Como o senhor analisa essa crise?
Acho que a crise tem uma origem objetiva, que parte do Governo em modificar a fórmula de cálculo de repasse dos recursos da universidade, e a forma de repasse do orçamento. Isso implicou em um prejuízo material, uma redução dos recursos que ela tem direito e a crise foi gestada a partir daí. Esperamos uma flexibilidade por parte do Governo Acredito que estamos nos aproximando de alguma saída e que carregamos uma verdade muito serena.
O fato de a reitora Marlene Alves ser pré-candidata a prefeita de Campina Grande interfere de alguma forma nessa crise?
O Governo do Estado tem discernimento o suficiente para separar, afinal, o Governo trabalha para todos. E deve governar com o principio da impessoalidade. Portanto, é um direito como cidadã, pessoal, da reitora se envolver na área política.
Caso seja eleito, como o senhor pretende contornar essa crise de relações com o governo? É possível chegar a um consenso?
Acho que é possível, se não um consenso, mas que seja um ponto de equilíbrio. Pretendo mostrar que o interesso público deve estar em primeiro lugar. Essa demonstração vem sendo feita, e de minha parte, na condição de reitor terei toda a disponibilidade de dialogar em todos os momentos sobre qualquer interesse da UEPB.
Falta transparência na UEPB? É possível tornar a administração mais transparente?
Não vejo mais necessidades. Somos fiscalizados permanentemente pelo Tribunal de Contas do Estado, pela Controladoria do Estado, somos “controlados” pela Lei de Licitações e Responsabilidade Fiscal, o Estatuto da Universidade, etc. Tenho uma proposta em assegurar a participação ampla da comunidade, a criação de conselho social para a UEPB.
No ano passado e também este ano, houve sérios debates no âmbito da universidade diante de propostas de greve. Qual foi a sua posição nestes dois momentos? Foi contra ou a favor da greve?
Sempre me posicionei ao lado de minha categoria, qualquer que seja a decisão. Ano passado, me posicionei a favor de um crédito de confiança ao Governo. Esse ano, infelizmente, a forma como foi proposta pela direção da Associação dos Docentes foi de fazer uma movimentação política com proposta de greve contra a reitoria, e não de defesa da instituição. Era uma greve puramente salarial e com o objetivo eleitoreiro. Votei contra a greve. Respeito a decisão dos técnicos administrativos (que estão em greve), até por serem de outra categoria.
O processo eleitoral municipal, com eleição para prefeito e vereador, de alguma forma tem interferido na UEPB nos últimos meses? E pode estar interferindo no processo para eleição da reitoria?
Não vejo interferência, pois as eleições para reitoria estão ocorrendo agora e há interesses externos, do ponto de vista da eleição municipal, de cada cidade. Vejo a manifestação como algo natural. A universidade não é uma ilha e sim parte do tecido social, sempre permeável a receber e dar informações. O que acho nocivo é quando esta participação passa a ser uma intromissão externa na universidade.
É possível manter uma campanha pela reitoria em alto nível? Essa eleição pode dividir os professores e servidores técnicos com efeitos que se prolonguem até depois do processo eleitoral?
Sem dúvidas. A nossa campanha tem uma deliberação clara de não fazermos referência a nenhum outro candidato. Nem referência elogiosa nem negativa.
Como enxerga o futuro da UEPB a curto, médio e longo prazo?
A curto prazo, acredito que aperfeiçoaremos a gestão. O impasse com o Governo será minimamente resolvido, a curto prazo. E que nós restabeleceremos uma tranqüilidade institucional em breve. A médio prazo, posso pensar que todas as nossas ações estarão em buscar consolidar para o futuro. Quando olhamos para a universidade, podemos enxergar o seu passado, proporcionando uma perspectiva para o futuro.
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Questionário: Lenildo Ferreira e Edson Souza
Repórter: Kalyenne Antero
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