Politicando - "Falta água, sobra politicagem"


Choveu e choveu muito em toda a Paraíba nesse final de semana. Para o nordestino afligido pela estiagem que expulsa o homem do campo e agora atormenta também as cidades, as águas caem dos céus como uma expressão de redenção.

Lamentavelmente, boa parte de todo o líquido tão precioso que se derramou sobre nosso estado nestes últimos dias acabou indo pelo ralo, dada a falta de reservatórios adequados para recebê-las e estocá-las.

A crise hídrica que as cidades de vários estados do Nordeste enfrentam é muito menos resultado da escassez de chuvas e muito mais conseqüência de uma política historicamente desprovida de planejamento e investimentos essenciais.

A realidade da indústria da seca, na qual políticos tiram vantagens da desgraça da região, já é bastante conhecida. Mas, não é a única explicação para a inércia secular dos gestores nordestinos.

É fato que a limitação de recursos pesa, mas, a grande verdade é que nossos políticos são por demais limitados e pequenos para investirem tempo e recursos pesados em projetos de médio prazo, que não terão retorno eleitoreiro imediato.

Cá por este Nordeste de filhos de Deus cabeças chatas, obra boa é aquela que permite festança de inauguração, com imagens a serem usadas largamente na campanha seguinte, como se o serviço fosse um gesto gracioso e benevolente do gestor de plantão. Obras que, de preferência, viabilizem o engordamento de aditivos e a gratidão das urnas.

Não existe outra explicação para justificar o fato de nenhum investimento expressivo ter sido feito em seis décadas para a segurança hídrica do compartimento da Borborema, por exemplo.

O planejamento, a prevenção de crises, a projeção de dificuldades são bases elementares da boa gestão. Mas, na nossa realidade, tudo parece imprevisto, porque o que temos no Nordeste – e particularmente na Paraíba – é politicagem, e não política. E a politicalha inviabiliza no nascedouro os princípios mais óbvios de gestão pública.

Resta-nos diante desse cenário, e com todas as razões do mundo duvidando da seriedade das estimativas de conclusão das obras de transposição, apelar para os Céus.

Não por acaso, em relação às chuvas do fim de semana, quando meteorologistas falam de fenômeno imprevisto, a maioria de nós prefere crer em sinal da providência divina.

Tanto choveu de novo que, quando um gestor ousa apelar para a bondade divina a nos mandar chuvas para mitigar a crise, bem poderia um trovão retumbar nos céus, como a dizer-nos o Criador: “Eu tenho feito a minha parte”.

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