Dom Aldo Pagotto, mártir ou monstro? Porque meio termo é muita hipocrisia


Muitas das mãos que agora espalmadas lamentam a morte do arcebispo emérito dom Aldo Pagotto são as mesmas que aplaudiram a decisão do Vaticano de escorraçá-lo da função de arcebispo da Paraíba em 2016, desde quando, coincidência ou não, a saúde do religioso se deteriorou de maneira célere e fatal. Isso é a hipocrisia em nível máximo.

Porque dom Aldo, vivo ou agora morto, deve ser tido na conta de um mártir ou de um monstro, sem espaço para meio termo. Ou foi uma vítima, conforme deu a entender ao parcialmente defender-se, destruído por retaliações e vinganças terríveis, ou foi um grande vilão, acobertando males que qualquer um, religioso ou não, deveria combater.

O que se sabe de certo e de público é que, à frente da igreja católica na Paraíba, contrariou o autoritarismo ideológico da esquerda e seu avanço dentro das próprias estruturas eclesiásticas. Ousou confrontar padres-políticos que celebravam missas e, no entanto, confessavam teses abominadas pela própria igreja, padres que, inclusive, jamais foram incomodados pelas autoridades acima de si e do então arcebispo.

O que se viu nos tempos de dom Aldo foi um arcebispo cuja postura e alinhamento em relação à política eram evidentes, tanto quanto a de outros líderes da igreja católica – inclusive o principal deles na atualidade – mas que, por destoar da predominância socialista-progressista notória no meio, acelerou sua desgraça e acabou degredado.

Não é, porém, caso de se dizer se foi mesmo inocente de todas as denúncias que caíram sobre seus ombros, mas contra dom Aldo, até agora, nada restou de provado e, segundo o próprio declarou, jamais foi chamado a defender-se em processo canônico que apontasse seus pecados e respeitasse seu direito sagrado à defesa.

O ódio público de que foi alvo, em verdade, não parecia ser consequência dos erros que supostamente cometeu, mas dos acertos que publicamente praticou. Ainda assim, só ele e os que diretamente envolveram-se com as pesadas histórias que marcam a queda do arcebispo – além de Deus, claro! – sabem a verdade real dos fatos.

A nós, ficará a dúvida e o julgamento individual e pessoal de cada um, inclusive daqueles que nem mesmo são católicos (como eu), mas acompanham o desenrolar da História. E a certeza apenas que, se os seres humanos nem sempre cabem em padrões fixos de julgamento, personagens como dom Aldo representam exceções porque não podem ter suas trajetórias relativizadas.

Pelo menos parente nós, meros homens pecadores.

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